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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CADA DOIDO COM SUA MANIA EM TEÓFILO OTONI

Tenho andado "no mundo da lua" e sonhando muito. Pode ser a idade ou o tempo que parece passar mais rápido quando envelhecemos. Quando eu tinha uns 16 anos, eu "ficava doido" para fazer 18 e entrar naqueles filmes proibidos para menores de idade. E os anos não passavam tão rápido como agora que já estou de cabelos brancos. Tem gente que não acredita em sonhos. Prova disso é minha mulher que nem bem começo a contar e ela rebate: " Ô preto, sonho é ilusão meu nêgo". Pode até ser, mas como me considero meio místico, acabo prestando atenção e acredito nas mensagens recebidas via sono ou em meditações solitárias embaixo do meu pé de pitangas aqui em Barbacena.
Eu sempre sonho e acredito que ainda vou conhecer a França e tirar uma fotografia ao lado daquela torre famosa e ao lado do Arco do Triunfo. Minha mulher diz que está mais fácil eu tirar uma foto ao lado da Torre da Matriz  e ao lado do arco da passarela da BR mais próxima. Ora bolas e um cacho de bananas  para minha mulher que decididamente não acredita nos "meus devaneios", segundo ela.
Luther King disse: "I Have Dream", Ghandi tinha sonho, Cristo tinha sonho, Che Guevara tinha sonho, o jornalista Herzog e o jovem Stuart Angel tinham sonhos, Kennedy tinha sonho, Marighella e Lamarca tinham sonhos, o pedreiro Amarildo tinha sonho e a história de todos estes sonhadores, o mundo sabe. Tudo indica que na verdade parece que o mundo não é muito chegado a sonhadores. Prova disso que todos os sonhadores acima foram assassinados.
Lá pelas bandas do povoado de Ribeirão das Almas no Vale do Jequitinhonha, havia um tal Santinho que vivia só bebendo cachaça. De santo ele só tinha o nome. Ele, Santinho, sempre me contava que ás vezes ele sonhava que era o capeta e roubava o dinheiro da oferta da pequena igrejinha de fé. Após denúncia de algum querubim mais iluminado, Dona Julinha ( beata fervorosa) proibiu a entrada na "casa de Deus" de pessoas com bafo etílico em grandes proporções. Assim, nem mesmo mascando cravinho da Índia ou chupando bala de hortelã, o tal capeta dos sonhos de santinho adentrou no recinto sagrado e as ofertas pararam de faltar.
Então, sonhando ou não, sou assim mesmo e fico fazendo esta mistura de escritos para tirar conclusões das coisas do cotidiano da vida da gente. Penso que todos nós não somos muito diferentes dos outros. Quando somos um pouco mais irreverentes, os "normais" costumam dizer que temos " um parafuso a mais", não é verdade? É tanto que gosto muito de dar uma voltinha naquelas feiras livres que acontecem nos sábados e se você prestar um pouco de atenção, verá e escutará sempre as mesmas pessoas e o mesmo linguajar.
"Ô compadre, com tá comadre? e os meninos?", "Tá chovendo lá?", "O preço do tomate abaixou", "Gente, como as coisas tão aumentando", "Cadê fulano? sumiu moço", "Seu Vasco tá caindo né?", "Chega freguesia, aqui é dois queijos por dez reais", " Olha o CD e o DVD, leva dois paga 4 reais, se levar três só paga 5 reais", e por ai vai o dedinho de prosa..
Eu não duvido de mais nada neste mundo. Tenho um amigo que é Coronel aposentando e toda vez que encontro com ele ali pelas bandas da Praça Tiradentes, ele me relata que "Ninguém pega os discos voadores. Segundo ele, a velocidades dos discos voadores é tão potente que os aviões daqui não tem velocidade para chegar nem perto deles. Dai, o sumiço tão rápido devido serem de outra dimensão". Segundo o Coronel Apolônio, os seres extras terrestres já estão no nosso meio há muito tempo e nós não vemos e nem percebemos. Segundo o Coronel Apolônio, são seres "muito velozes" e "nós somos mais lentos". Segundo ele, "Os cachorros percebem, mas, como não falam, dão sinal na forma de latir". Será???
Quer saber de uma coisa. Vou continuar sonhando. É melhor assim. A realidade machuca muito e meu coração é muito sensível. Vou correndo para ficar embaixo do meu pé de pitangas, senão acabo ficando "doido mesmo" aqui em Barbacena. Cruz credo, Cruz credo!!!

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á minha afilhada e sobrinha, a psicóloga Grazielli Batista Cardoso, que trabalha lá no distante povoado de Lufa, Município de Novo Cruzeiro-MG, em 30/09/2013- Barbacena-MG.

sábado, 28 de setembro de 2013

EVANGÉLICOS EM TEÓFILO OTONI

Antigamente era costume chamá-los de crentes. Com o passar do tempo ficaram conhecidos por evangélicos. Na minha modesta opinião, os crentes ou evangélicos são, assim como outros cristãos, seguidores de Jesus Cristo e fieis à Bíblia  que significa uma coletânea de livros considerados sagrados. É bem provável que existam muitos outros escritos sobre Jesus Cristo e que não foram transcritos para a Bíblia.
Desde rapazinho, eu conheci e conheço muitos crentes em Teófilo Otoni. Inclusive, na minha juventude, presenciei um apedrejamento de um pequeno salão onde um senhor que se auto intitulava de missionário da obra de Deus, orava fervorosamente com uma Bíblia na mão "mostrando a verdade que liberta" e expulsando demônios e coisas ruins em nome do senhor Jesus Cristo.
Felizmente, aprendi com meus pais o respeito ás crenças e religiões dos seres humanos e sendo assim sempre respeitei aquele senhor missionário. Eu até interferia e pedia ás pessoas que não jogassem pedras na pequena igrejinha. Afinal, qual o mal que ele fazia para nós? Assim como o padre da nossa paróquia, ele também pregava o amor ao próximo, a caridade e os ensinamentos de Cristo. Tinha oferta? Tinha. Assim como também na nossa paróquia tinha oferta e também o dízimo.
Sempre visitei igrejas evangélicas e nunca me senti incomodado com nada de anormal. O mesmo sentimento de fé que tive em missas dominicais foi os mesmo sentido nas orações das igrejas evangélicas. A doutrina criada pelos homens pode até ser diferente, mas na minha concepção de crença, o caminho de todos é um encontro espiritual com um ser supremo superior e considerado sagrado.
Em todas as instituições e isto é antigo, sempre haverá em sua maioria pessoas de boa índole e uma minoria que envergonha o lugar a que pertencem. Isto acontece nas igrejas, nas comunidades, nas instituições militares e nos meios políticos. Sendo assim, exemplos não faltam desde a traição de Judas até crimes de corrupção praticados por Juízes, Policiais, Políticos e tantos outros.
Guardo com muito carinho na minha memória o exemplo de vida de muitos evangélicos que conheci em Teófilo Otoni, a exemplo do senhor Bertino Lorentz, Lôro "Pipoqueiro", Pedro Amorim, Pastor Édson, Pastor Francisco Costa, Pastor Fábio Costa e muitos outros crentes no senhor Jesus Cristo. Assim como os evangélicos, guardo com carinho lembranças de muitos católicos a exemplo de Dona Chiquinha Ottoni, Dona "dos Anjos", Padre Geovani Liza, Irmã Arcângela, Dona Lígia Gusmão, Dona Nirinha do Schnoor. Também não esqueço dos bons e caridosos espiritas a exemplo do senhor Oswaldo Reis, Maria Bonfim(Dinha), Dona Adanil Portugal e senhor Joaquim Portugal e tantos outros.
Às vezes, eu paro para pensar naquele povo que há uns quarenta anos atrás atiravam pedras naquele humilde missionário e na sua humilde igrejinha de crente e relembro uma frase de Jesus Cristo: "Quem não tem pecado, que atire a primeira pedra". Sendo assim, eu peço perdão a Deus por mim, por eles, por todos nós.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos meus amigos de infância e juventude em Teófilo Otoni, Pastores evangélicos Francisco Costa e seu irmão Fábio Costa. Em 28/09/2013, Barbacena-MG.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DISPUTA POLITICA EM TEÓFILO OTONI

Meu pai nasceu político, viveu na política e hoje aos 84 anos ainda respira política. Grande parte da minha vida convivi com meu pai. Ainda lamento e muito que na minha infância e juventude quase não tive contato com meu pai devido ele ter passado por 15(quinze) prisões efetuadas pela ditadura militar e sendo que a última ele foi condenado há mais de dois anos onde foi torturado barbaramente nos porões da ditadura militar. Depois de um tempo, já com minha mente politizada, resolvi sair de Teófilo Otoni e andar pelo Brasil pregando a resistência ao regime militar. Atualmente, quando posso, retorno a Teófilo Otoni para rever meus familiares e bons amigos.
Confesso que grande parte dos meus simples escritos são na verdade inúmeras situações que presenciei ao lado do meu pai ou escutando seus casos quase seculares que viveu. Foram tantos casos que a maioria ficaram gravados na minha memória e com uma pincelada fictícia em relação a nomes, escrevo textos humildes com cara de povo, apesar dos meus inúmeros erros de português. E, para falar a verdade, sou péssimo em português. Continuo sempre dizendo aos meus amigos que sou um eterno aprendiz e bola prá frente.
Hoje lembrei de um caso que escutei do meu pai. Eu estava de férias e á noitinha tenho o costume de sentar numa escada velha do nosso antigo casarão para escutar meu velho pai e ele me contou que este caso se passou no centro de Teófilo Otoni, mais precisamente ali nas imediações do antigo coreto da praça Tiradentes. Segundo meu pai, muitos personagens deste caso já morreram e outros ainda estão vivos. Meu pai foi testemunha ao vivo e inclusive ajudou interferindo na muvuca que quase termina em morte.
Era uma época de eleição para prefeito e algumas pessoas, inclusive meu pai, estavam sentadas nos bancos da praça. Ai, de repente, apareceu um certo candidato a prefeito que já tinha sido prefeito em gestão anterior e tentava reeleição. Aperto de mão daqui, tapinha nas costas dali e um monte de baba ovos e pucha sacos distribuindo aqueles santinhos eternos. Tinha um assessor que era mais fanático e suspirava: " Ai gente, não esquece dele, ai gente, ele merece" e por ai vai.
Num certo momento, um senhor de nome Domingos e que detestava corruptos, preguntou: "Escuta aqui ó fulano, onde você enfiou a verba para a construção da galeria do Bairro Palmeiras?. E, a resposta veio rápida da boca alegre da gazela, digo do candidato a prefeito: " Enfiei na buceta de sua mãe". Ah! meu Deus prá que, o tal Domingos tirou uma faca peixeira da cintura e partiu para cima da gazela, digo do candidato a prefeito que trêmulo feito um veado em frente ao predador correu ao encontro do meu pai e pediu: " Ô Tim, você que conhece mais este sujeito, segura e me salva". Meu pai, conhecido dos dois, acalmou o senhor Domingos dono da peixeira que detestava corruptos e tudo voltou ao normal.
Assim, cada um foi para o seu lado e os ânimos voltaram à estaca zero. Ao chegar na Avenida João XXIII, meu comentou o caso com um candidato a vereador que apoiava a tal gazela, digo, candidato a prefeito. O aspirante a vereador olhou para o tempo, colocou uma mão na cintura, chupou o dedo e disse para o meu pai: " Só se ele enfiou no cú da mãe do sujeito, porque de buceta ele não entende nada". Pelo que conheço meu pai, ele deve ter ficado horrorizado com tais considerações ou palavreados chulos..
E assim, quando tiro férias, fico com meu pai relembrando as histórias de Teófilo Otoni que não são contadas em livros. Tem coisas que não acredito muito, mas, uma cigana disse para mim que vou morrer com 98 anos. Imagino que até lá vou escrever muito caso que vai deixar muita gente arrepiada. tipo aquela gazela, digo candidato a prefeito.
Minha avó, uma imigrante polonesa dizia sempre que " a voz do povo é a voz de Deus" e Dona Chiquinha Ottoni, minha professora de catecismo dizia que "com a voz de Deus não se brinca". É verdade, quatro anos passa tão rápido como uma gazela.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que lutaram e lutam  sempre contra a corrupção e a demagogia na política em Teófilo Otoni- Em 23/09/2013, Barbacena-MG.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TIBÉRIO BOCA RICA E AMÂNCIO EM TEÓFILO OTONI

Seu nome era Tibério e seu apelido Boca Rica. Ele era conhecido por ostentar a boca recheada de dentes reluzentes cobertos por ouro. Tibério Boca Rica tinha se aventurado pelo antigo garimpo de Serra Pelada onde ganhou muito dinheiro, além de juntar muito ouro. Além da boca reluzente de ouro, Tibério ostentava vários cordões de ouro e pulseiras. Gostava de andar de camisa aberta mostrando o tórax brilhando e tinha mania de balançar os braços para ostentar as várias pulseiras de ouro. Tibério não escondia a vaidade. Segundo ele, toda aquela riqueza foi conquistada com muito trabalho e diversas vezes esqueceu de um ser supremo chamado Deus. A vaidade tinha tomado conta de Boca Rica.
O vizinho de Tibério chamava-se Amâncio que era mais conhecido por Amâncio Ratão. Este, ao contrário de Boca Rica, não  fiava e nem tecia. Diziam que nem Salomão se vestiu como ele. Amâncio, como um lírio do campo, era admirado pela sua beleza espiritual e mansidão. Diziam que ele era alimentado também por uma sabedoria idêntica àquela suplicada por Salomão, rei dos judeus.
Tibério Boca Rica vivia só e não tinha herdeiros. Vez ou outra, Amâncio Ratão ajudava Boca Rica nos afazeres domésticos. Ratão, assim como Boca Rica, também vivia só e não conheceu sua família. Tibério Boca Rica era mais velho e Amâncio Ratão mais novo. Pareciam pai e filho. Tibério Boca Rica tinha cara do mundo e Amâncio Ratão tinha cara de amor, fraternidade, caridade.
Todas as noites, Tibério Boca Rica que era do mundo, pensava que Amâncio Ratão poderia estar querendo tomar sua riqueza e vivia noites de insônia. Ao contrário, Amâncio Ratão dormia o sono dos justos e sonhava que "todo dia seria um novo amanhecer" e Deus na sua infinita bondade de justiça o alimentaria na carne e no espírito.
Tudo na vida passa e uma certa época tanto Tibério Boca Rica como Amâncio Ratão partiram para outras esferas celestiais. Numa certa dimensão os dois se encontraram novamente. Tibério Boca Rica estava banguelo e sem dentes. Questionado por Amâncio Ratão onde ficou tanto ouro, Tibério Boca Rica do mundo disse que após um certo tempo os coveiros do cemitério arrancaram tudo. Não sobrou nada!!!

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado à minha querida segunda mãe, a saudosa Dinha, Maria de Souza Bonfim. Espírita Kardecista. Em 19/09/2013-Barbacena-MG.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

OVOS PODRES NOS POLÍTICOS DE TEÓFILO OTONI

Mustafá, um verdadeiro muquirana, tinha ficado viúvo há um ano. Dona Sofia "bateu as botas" e deixou Mustafá, um descendente de libaneses numa situação complicada. Dona Sofia fazia de tudo: Lavava, passava, cozinhava, arrumava e á noite tinha ainda que ter fôlego para atender Mustafá na cama. Assim, no batidão de vida(?) que levava, Dona Sofia não resistiu e se foi para o cemitério que ficava ali pertinho. "A pobrezinha descansou", dizia a amiga Dona Filó que através da janela conhecia e sabia da vida de todo mundo na turbulenta região da Vila dos Carrapatos encravada entre as antigas favelas do Subaco Fedendo e Cataquiabo em Teófilo Otoni. Carrapatos eram comuns, diziam os moradores mais antigos, tendo em vista que um senhor de nome Tibúrcio criava mais de trinta cachorros por aquelas bandas.
Dona Filó, aquela que sabia de tudo através da janela, retrucava e dizia que ali era conhecido por Vila dos Carrapatos "devido á falta de banho, higiene e limpeza pessoal dos moradores". "Tem gente que toma banho uma vez por mês e põe culpa nos carrapatos". Certa ou não, a língua afiada de Dona Filó tinha algum fundamento tendo em vista que nasci praticamente na região do Subaco Fedendo e já presenciei in loco muita gente sem um pingo de água antigamente. Tomar banho era luxo..., mas tinha pertinho a Lagoa da Alegria e Rio de Santo Marcolino atrás da igrejinha de Nossa Senhora dos Pobres.
Mustafá, um mão de vaca, era daquela região onde o judas perdeu as botas ou de uma região onde inúmeros prefeitos perderam as botas de tanto ir ali de quatro em quatro anos fazer promessas em época de eleições. Aquelas promessas não cumpridas levaram o povo a juntar ovos podres para tacar nos políticos e colocou muito político branco e negro para correr com botas ou sem botas cuspindo marimbondos. Pedrinho jacaré, um ativista social que morava por aquelas bandas era exímio na pontaria, mas ele sempre jurou de pés juntos que ele não foi o atirador de ovo da tropa dos excluídos na tropa da elite de Teófilo Otoni.
Viúvo e meditabundo pelos cantos, Mustafá andava de cabeça baixa até que de uma hora para outra resolveu arrumar uma nova costela para substituir Dona Sofia, a falecida. Seguindo conselhos do Waldemar, amigo de copo, que tinha um cabaré de mulheres assanhadas conhecido por "Cabaré do Bigodeira", Mustafá passou a frequentar o prostíbulo onde a mulherada era bem chegada a um forró tipo relabucho todas santas noites. Era tanta mulher que Mustafá acabou arrumando duas e assim, dito e feito, a desgraça caiu na vida do infeliz que o levou até a acreditar que foi macumba que fizeram para ele ou então olho gordo e mau olhado de Dona Filó. Aquela, aquela da janela.
Diferentes de Dona Sofia, a mulher de verdade, as duas novas mulheres de Mustafá em pouco tempo tomaram tudo que ele possuía. Uma casa, dois barracões de aluguel, trinta porcos criados num chiqueiro ao fundo da casa, três relógios folheados de algibeira, duas alianças de ouro(uma da falecida), dois escapulários de prata pura do menino Jesus de Praga e grande quantidade de dinheiro em espécie que ele guardava embaixo dos colchões.
Dona Filó, aquela da janela e da língua afiada via Mustafá andando feito um mendigo pelas ruelas da Vila dos Carrapatos e relembrava da amiga Dona Sofia com uma citação bíblica que diz: " A mulher sábia edifica seu lar". Língua afiada ou não, Dona Filó tinha razão. Tem homens que só valorizam as mulheres de verdade quando as perdem.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á Dona Didinha, minha inesquecível professora no Colégio Estadual em Teófilo Otoni-MG. Em 17/09/2013, Barbacena-MG.

PT SAUDAÇÕES, VIAGEM AO VALE DO JEQUITINHONHA EM ARAÇUAI

 Tenho uma espécie de baú antigo onde guardo uma papelada que, para as pessoas" normais", não passa de uma doideira da minha parte. Mas, continuo guardando e vez ou outra dou uma mexida naquilo tudo. Penso que pode ajudar a preservar a história da região onde nasci. Por incrível que pareça, encontrei até uma fotografia antiga com meus pais ainda jovens num carnaval junto com amigos de Teófilo Otoni que até viraram grandes empresários e pasmem, todos eles com um tubão de lança perfume nas mãos. Naquela época ainda não era proibido. E, foi nessa cutucação de coisa antiga que encontrei mais alguns manuscritos de Lora, a minha querida prostituta politizada de Teófilo Otoni. Acredito que ela escreveu tudo aquilo após uma viagem que fez à região onde nasceu entre os Vales do Mucuri e Jequitinhonha.
Embora meio apagado pelo tempo, consegui com ajuda de uma antiga lupa decifrar o manuscrito onde se lê: : " Estou indo visitar meus pais, minha família. No momento ando a pé. O sol é escaldante. Uma viajem que parece não ter fim. Tudo parece um deserto e pelo acúmulo de poeira vermelha, parece que há muito tempo não chove. Mais á frente avisto um pequeno casebre feito de varas de bambu e barro espalhado pelas paredes. Senti presença de humanos e pedi um copo com água. Um senhor bem magro e sem camisa atende e pede á mulher para trazer a água que vem num canecão tipo embalagem de óleo de soja, "feito por funileiro de Araçuaí", segundo o senhor. A água é "suja", leitosa e meio salgada. Não tem outra e se não beber da mesma, "o caboclo morre", diz a mulher sorrindo sem dentes.
Lá no fundo do quintal embaixo de uma frondosa mangueira, um menino barrigudo faz bolinhos de arroz com feijão e se delicia. A mãe, magra e pálida, se aproxima e mistura uns torresmos de carne de porco. Penso e digo que aquilo pode fazer mal á criança, mas, ela não se importa e diz: " Faz nada, esse menino adora comer "capitão" misturado com torresmo. O pai concorda com a mãe e diz que "torresmo dá sustança para o barrigudo crescer forte e ir para o corte de cana em São Paulo. Segundo ele, "os gatos" só levam para cortar cana quem for forte, novo e bom de corte. Quanto mais cortar cana com o podão, mais o caboclo ganha dinheiro". 
Na porta do casebre tem uma bandeirinha do Brasil colada e  mais abaixo um retrato de Nossa Senhora de Aparecida. O moço me diz que a bandeirinha, ele ganhou no dia do desfile de 7 de setembro em Araçuaí. "Nóis foi lá assistir a marcha. O vereador levou nois tudo na carroceria da camionete e até pagou umas cachacinhas prá nois tudo. A bandeirinha foi presente de um Deputado Estadual que estava na festa e que também deu prá todos nois uma folhinha com o retratinho dele onde tava escrito: "Ele faz por você". O retrato de Nossa Senhora de Aparecida, "nois tudo aqui na roça ganhou de Sinhazinha beata que organiza prucissão, minino Jesus e recebe Padre Curió na casa dela de mês em mês quando tem missa. Ai, nois tudo vai à missa, beija a mão de Padre Curió, leva um agrado para ele e acerta o dízimo com Sinhazinha Beata.
Finalizando o seu manuscrito, Lora diz que " Uma das misérias do mundo é a política da demagogia". Ela diz que aprendeu a pensar assim com um ex. preso político da ditadura militar no Brasil. Segundo aquele ex. Preso político, "Demagogia é enganar as massas populares fazendo o jogo do toma lá e dá cá", coisa ainda muito comum nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri". No rodapé, ela diz que "tô com saudade de ti meu subversivo, não vejo a hora de voltar. Vou roer uns pequis por estas bandas e breve a gente se encontra para trocarmos dedinho de prosa. Prometo que vou fazer um cafuné nos teus cabelos já grisalhos a exemplo de Ziraldo, Caetano e muitos outros".

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu grande amigo Fábio ( Fabão), militante do Partido dos Trabalhadores de Araçuaí-MG. Em 17/09/2013, Barbacena-MG.




segunda-feira, 9 de setembro de 2013

CANDIDATO A PREFEITO EM TEÓFILO OTONI

Ajoelhada ao lado da catacumba, Maria Clara ou Clarinha, não continha as lágrimas. Vestido preto, Chapéu preto e véu preto compunham a vestimenta da viúva. Nem mesmo as pedrinhas e o matagal que tomavam conta do cemitério municipal impediam que Clarinha arredasse dali. Entre uma lágrima daqui e outra dali, a inconsolável viúva falava em voz baixa: "Tu, Thomas, haverá de queimar no fogo do inferno".
Thomas Daki era um forasteiro que costumava vir em Teófilo Otoni de quatro em quatro anos á procura de riqueza fácil e visitar velhos amigos que a exemplo dele enriqueceram iludindo o povo da cidade do amor fraterno. A pretexto de procurar pedras preciosas, Thomas Daki veio, viu e gostou. Gostou tanto que depois de conhecer Clarinha, uma espécie de cozinheira dos garimpeiros, apaixonou-se e deu no que deu.
Thomas Daki encheu Clarinha de promessas de dólares e se esbaldou na prática do amor que Clarinha por experiência sabia fazer como ninguém. Quarenta anos mais velho, Thomas Daki não resistiu e na cama sofreu um infarto fulminante. Thomas Daki, diziam todos, " deve ter deixado uma fortuna para Clarinha". "Ela merece, afinal sempre esteve ao lado do Thomas", diziam os saudosistas das idéias do Thomas.
Na verdade, Clarinha sempre foi acostumada a comer carne seca e roer pequi. Após se engraçar com Thomas Daki, Clarinha se tornou uma madame. Passou a frequentar os melhores restaurantes de Teófilo Otoni e desprovida de estudos e etiquetas, mas, acompanhada de Thomas Daki, ninguém percebia ou fingia que não sabia. Afinal, todos queriam mesmo era aproximar de Thomas Daki e seus supostos milhares de dólares tão decantados nas rodinhas sociais.
Thomas Daki, diziam, além da fortuna em bancos privados possuía ações na bolsa de valores e um lendário galpão repleto de pedras preciosas conhecidas por " Olho de Gato" que, segundo os garimpeiros valia uma fortuna incalculável. Muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo. Mas, como um gato esperto, vez ou outra pedia um trocado ou miúdo para Clarinha que ainda tinha uma reserva dos tempos em que deitava nas redes com os humildes garimpeiros. E Clarinha ali, acreditando naquele que só aparecia de quatro em quatro anos...
E assim, Thomas Daki entre verdade ou mentira foi vivendo na maior mordomia entre a elite de Teófilo Otoni. Convites para festa de debutantes no Automóvel Clube, fotografias nas páginas sociais, poses para fotógrafos em visitas do governador de Minas Gerais, entrevistas na mídia tendenciosa, paraninfo de formandos, recepção no gabinete do prefeito entusiasta das idéias de Thomas Daki e diversos assessores para servir Thomas Daki com muita servilidade. Uma realidade, Thomas emplacou de vez a bandeira do engano na cidade do amor fraterno.
Amizade confirmada com o prefeito, Thomas Daki foi convidado a filiar-se ao partido de prefeito e cogitaram em lançar sua candidatura a prefeito de Teófilo Otoni. O prefeito e sua turma que frequentavam o famoso restaurante " Amigo do príncipe" criaram até um slogan para o futuro candidato que soltava gargalhadas quando escutava os baba ovos em coro cantarem: "Thomas, Thomas, Thomas seu prefeito, Thomas, Thomas, Thomas, seu prefeito".
Como tudo passa, Thomas Daki passou e Clarinha, assim como o povo, caiu na realidade. Zé do povo, um fiel garimpeiro fala baixinho no ouvido de Clarinha: "Vamos Clarinha que a hora é agora e quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Tudo indica que um novo sol haverá de brilhar em Teófilo Otoni que assim como Clarinha e Zé do povo estão cansados de gente como Thomas Daki. Afinal, a Grécia antiga já ensinava que "todo governo vem do povo, pelo povo e para o povo".

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu humilde amigo de juventude na Vila Verônica em Teófilo Otoni, Sérgio Gil (Serjão). Em 09/09/2013, Barbacena-MG.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

FRATERNIDADE NA REGIÃO DE TEÓFILO OTONI

Celestino era filho de Antonio e Maria. Os três moravam na antiga fazenda Saudade. Antonio era conhecido por Antonio "Vaqueiro", Maria por Lia e Celestino por Tininho. Eles viviam ali como agregados. Trabalhavam para Antero, o dono da terra, e plantavam em horta caseira algumas "coisinhas" para o sustento da família, além de receber dos patrões uma pequena quantia para outros gastos caseiros. Lia também ajudava a patroa Amenailde a fazer comida, lavava vasilhas e no final de semana ia junto com a patroa para a beira do rio e juntas lavavam umas três bacias de roupas sujas. Tanto dela como dos patrões.
Antonio "Vaqueiro", junto com Antero o patrão, tirava leite das vacas, juntava bois, amansava burros, cavalos, jumentos, além de, junto com o patrão, dar ração a todos os animais. O filho Tininho frequentava a escola junto com os filhos dos patrões que eram padrinhos de batismo do mesmo. Aos domingos, todos juntos, patrões e empregados vestiam suas melhores roupas e frequentavam a missa dominical na catedral matriz de Teófilo Otoni.
Aos 12 anos, no dia do aniversário, Tininho ganhou dos padrinhos patrões um belo cavalo a quem deu o nome de Valente e dos pais ganhou uma sela nova e um par de esporas na cor prata. O primeiro passeio foi até a nascente do Córrego dos Índios onde Valente bebeu água pura e relinchou em forma de agradecimento. Os dois, Tininho e valente se tornaram grandes amigos. Em cima de um galho da antiga gameleira, um Bem Te Vi foi testemunha.
Assim como Tininho e os filhos dos patrões, todo menino sonha. Os filhos dos patrões sonhavam em ir para a capital e se tornarem doutores. Já Tininho, sonhava em ficar mais um tempo na fazenda saudade ao lado do seu cavalo Valente e assim se tornar um exímio cuidador de cavalos.
O tempo, assim como tudo na vida, passou. A fazenda Saudade ficou mesmo na saudade. Os filhos dos patrões se tornaram realmente doutores. Ainda que mais idosos e cansados pelo dever cumprido da labuta da vida, Lia e Antonio "vaqueiro" continuavam ajudando os patrões e vivendo em muita harmonia. E Tininho? para alegria de todos, Tininho foi para o Rio de Janeiro e lá se tornou um profissional naquilo que sempre gostou. Tininho se tornou um mestre. Cuida, zela e monta em cavalos de raça no Jóquei Clube do Rio de Janeiro e assim como os seus amigos de infância que se tornaram doutores, Tininho tem uma vida digna e recebe ótimo salário.
Num final de ano, os amigos de infância retornaram a Teófilo Otoni e foram para a fazenda Saudade visitar os pais. Ao chegarem lá foram recebidos com tiros de rojões e muita confraternização. Na entrada da fazenda, os patrões Antero e Amenailde, junto com Lia e Antonio "vaqueiro" afixaram uma grande placa onde estava escrito: "Nesta fazenda nada nos pertence. Tudo aqui é de Deus. Nós apenas tomamos conta".
Lá em cima, bem no alto de uma velha gameleira, um Bem Te Vi cantava alegremente: "Bem Te Vi, Bem Te Vi, Bem Te Vi...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu justo, humilde e bondoso amigo professor Wilson Colares, hoje também assessor do jovem vereador Thales do Partido dos Trabalhadores em Teófilo Otoni-MG. Em 04/09/2013.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

ESTÓRIAS DE ENGENHEIRO SCHNOOR

Joaquim "Português" de português só tinha o apelido. Viúvo, Joaquim passou a viver maritalmente ou juntado com Ana, uma moça prendada que veio de uma região rural conhecida por Jabuti. Joaquim vivia bem com Dona Fiota até que a mesma foi acometida por uma doença que a deixou em pele e osso. Joaquim fez de tudo para curar Fiota, mas não teve jeito. Segundo exames médicos, Fiota tinha câncer e fatalmente morreria. Questão de tempo e foi o que acabou acontecendo. Após um longo tempo sem companhia de mulher, Joaquim gostou de Ana que era bem mais nova e deu no que deu.
Joaquim, ainda assim, sentia saudade de Fiota. À noitinha ou "na boquinha da noite" como era costume dizer na região, Joaquim tinha o costume de sentar na soleira da porta de sua casa e ficava ali matutando sobre a vida, baforando seu inseparável cigarrinho de palha ao mesmo tempo em que alisava a cabeça e a barba do bode.
Sim, do bode Picolé  que há mais de 20 anos acompanhava Joaquim até mesmo na missa dominical que acontecia de mês em mês na pequena igrejinha de Nossa Senhora do Carmo da pacata cidadezinha de Girassol, encravada nas montanhas do Vale do Jequitinhonha. A chegada do velho e bondoso padre Curió era saudada com tiros de rojão principalmente por Tiãozinho, uma espécie de líder comunitário que servia a todos sem distinção e muito assediado por políticos da região.
Ainda que o bode Picolé fosse manso, sua entrada no recinto da igreja era proibida. " Onde já se viu um bode catinguento entrar na casa de Deus?, fuxicava a beata fervorosa Clotilde nos ouvidos de Sinhazinha, sua companheira de recolhimento de dízimos e arrumação da "casa de Deus". Assim, Joaquim, preocupado com a segurança do bode Picolé e chateado com as más línguas, amarrava seu bode junto aos cavalos, jumentos e éguas que ficavam do lado de fora e ao passar perto das beatas dizia em voz baixa ao pé do ouvido delas: "Prefiro a catinga do meu bode que sentir o bafo da discórdia da língua de vocês que "num tem o que fazê".
" Essa questão de bode é antiga pelos lados da igreja. Tem um povoado aqui por perto que deixa a igrejinha aberta e entra mais ou menos uns 30 bodes e alguns dão trabalho dos diabo para sair", afirmava padre Curió que não queria dar palpite sobre o bode picolé. Padre Curió preferia ficar em cima do muro, tendo em vista que Joaquim sempre levava algum agrado para ele e ajudava na manutenção da igrejinha de fé. Sobrava então para Zezinho de Lica, um aprendiz de coroinha que ficava de butuca vigiando tudo e avisava padre Curió quando Joaquim e o bode Picolé chegavam. Assim, dava tempo de padre Curió bater em retirada para a sacristia no intuito de vestir a farda, ou seja, a batina. Para a consciência do bondoso padre não era o bode que perturbava e sim a língua das beatas espalhando discórdia no seio dos doutrinados da fé católica. 
Zezinho de Lica, alem de ajudar padre Curió, ajudava também a olhar os animais. Padre Curió mandou fincar dois mourões com pau atravessado para as pessoas amarrarem os animais. Pelo "estacionamento" improvisado, o bondoso padre não cobrava nada, mas, Zezinho de Lica, sempre ganhava alguns trocados pela vigilância e dizia sempre: "Esses bicho num dá trabaio. O trabaio é que vez ou outra um cavalo se assanha com as égua e as vergonha cresce. As muié num pode nem olhá, senão assusta. Até o bode picolé fede mais. Deve ser pros cavalos num aproximar dele, né?"
Quando a missa terminava, era uma festa na porta da igrejinha. Compadre cumprimenta compadre que tá de olho na comadre, as mocinhas "tudo doidinha" para arrumar namorado, cavalo ficava mais assanhado e o pobre  solitário bode Picolé se espremia de um lado para outro desviando "das vergonhas" que cresciam de um lado e de outro. "E  põe vergonha nisso", gritava Zezinho de Lica morrendo de rir da situação que nem o bondoso padre Curió. "escondido atrás do muro" queria ver.
Joaquim afasta um cavalo daqui, outro dali e puxa seu bode que já estava num desespero dos diabo. Dona Ana que vê tudo e finge que não vê para não desagradar o amado, mete a mão entre os belos seios e puxa um trocado para Zezinho de Lica que ainda tem um tempinho para dizer bem baixinho no ouvido de Dona Ana: " Oia, Dona Ana, esse bode velho tá precisando de uma bodinha nova". Pelo visto, Dona Ana vai se arrumar mais e ficar mais bonita para Joaquim. Ah! se vai...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho- Texto dedicado ao meu justo e bondoso amigo Antonio Coelho, o popular Batata do Distrito de Engenheiro Schnoor- Araçuaí-MG- em 02/09/2013, Barbacena-MG.