Em Teófilo Otoni, nunca fui candidato a nada. Lembro que fui presidente de um clube de jovens e por várias vezes um tipo de presidente dos inúmeros times de futebol varzeano que ajudei a formar na Vila Verônica onde passei minha infância e juventude. Até hoje, alguns amigos me questionam o fato de não ter sido um candidato a cargo político em minha terra natal. A todos respondo que não era meu caminho ser um candidato a cargo político na minha terra natal. Preferi, como muitos, ser um homem livre e observador dos acontecimentos em busca de pensamentos que melhorassem as condições de vida do povo sofrido da nossa terra que, apesar de muitos corruptos, ainda tem pessoas inteligentes, honestas e transparentes com as coisas públicas. Aos poucos, o povo vai conquistando a cidadania plena.
Voltando ao título do texto, na década de 60 e no início da 70, havia em Teófilo Otoni um programa de calouros todos os domingos no antigo cine vitória. Aquele programa era realizado e comandado pelo senhor Lourival Pechir, pioneiro do rádio em Teófilo Otoni. O programa tinha o nome de " Matinal de Calouros X7" e logo pela manhã a fila era imensa tanto de jovens e adultos que se espremiam para comprar ingressos. Realmente, o programa de Lourival Pechir era verdadeiro sucesso e campeão de bilheterias.
Eu devia ter uns 16 anos. Como todo jovem da época, a nossa diversão era jogar futebol ou Matinal de Calouros do senhor Lourival nos domingos até então pacíficos da pacata Teófilo Otoni. Pois bem, comecei a me assanhar nos caminhos do amor e arrumei a primeira namorada que morava ali perto do antigo morro do bispo. Só Deus sabe o que passei para namorar aquela moreninha de cabelos pretos, tendo em vista que já corri muito do pai dela e dos irmãos. Mas, era gostoso e até sinto saudade quando lembro das dificuldades para nossos encontros.
Interessante que minhas Ex. namoradas sempre moravam em morros. Morro do bispo, morro do cemitério, morrro do subaco fedendo, morro do cata quiabo, morro do Altino Barbosa, morro da caixa d'água, morro da concórdia e até um tal de morro dos velhacos. Para contrariar a história de morros, acabei casando com uma tal Maria das Dores que nasceu no povoado de Ribeirão das Almas no Vale do Jequitinhonha.
De todas as namoradas, guardo saudade da primeira. Penso até hoje que emoções como batimento do coração, tremedeira nas pernas e nas mãos, beijo gostoso escondido, carinho escondido dos pais, saudade com lágrimas e juras de amor eterno só acontece com a primeira namorada. E, foi para essa primeira namorada moreninha e de cabelos pretos que prometi cantar no programa de calouros do senhor Lourival Pechir. Lembro que recebi incentivo de uma "legião de fãs" (será?) e até mesmo do meu saudoso avô Ioiô Garrocho que só não concordava com meus longos cabelos ao estilo da banda revolucionária dos Beatles na época de muitas contestações mundiais, principalmente dos jovens.
A música escolhida foi "Querida" do famoso Jerry Adriani, um cantor de muito sucesso naquela época e que provocava suspiros e gritos das fãs alucinadas. Lembro que fui á Casa Miveste do saudoso senhor Oldack Miranda onde comprei uma bela calça de tergal e a tradicional camisa volta ao mundo e pasmem... na cor verde limão. O sapato tomei emprestado do meu amigo Jorginho maravilha. Era uma botinha de couro, salto alto e muito usada pelos jovens na famosa dança do Twist.
Passei uma brilhantina nos longos cabelos e lá fui cumprir a promessa. Em troca ganharia um beijo na boca escondidinho ali pelas bandas do morro do bispo. valia a pena passar no teste. Por aquela moreninha de cabelos pretos eu não podia dar "xabú", ou seja, negar fogo. E assim, dito e feito. O cine vitória estava lotado. Eu, com minha calça de tergal e camisa volta ao mundo na cor limão, junto com mais de vinte calouros nos camarins. Vez ou outra eu dava uma espiada por entre os buracos da cortina vermelha e...ai meu Deus, onde fui entrar.
O auditório lotado de gente. Eu suava mais que tampa de chaleira, as pernas bambas, questionamentos interiores: "o que que eu tô fazendo aqui?", "será que vai dar?" e ai veio o que eu não queria: Seo Lorival chama o próximo calouro que é...Walter Teófilo, o Téo. Misericórdia, as pernas falharam, empaquei que nem burro velho e o que é pior, veio um auxiliar do seo Lourival e colocou um pé na minha bunda dizendo em alto e bom som: "Vai, vai, que é a sua vez." Não fui e ainda me lembro que disse a ele com raiva mesmo: "Oia, cê num empurra que é pior". Pois bem, relembrando tudo que passou, fico a meditar que o amor pela menininha de cabelos pretos era capaz de tudo. Até mesmo ser candidato a cantor. Ê saudade, uai sô!!!
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos familiares do senhor Lourival Pechir, pioneiro do rádio em Teófilo Otoni e á menininha de cabelos pretos, minha primeira namorada- Em 29/07/2013, Barbacena-MG