Quando conheceu o mar pela primeira vez, o mineiro Juca levou um susto. A primeira impressão gravada em sua mente foi aquele "tantão" de água, a grandeza do oceano e aquele "encontro" lá no "fim" do mar com o céu. E Juca, entre mil pensamentos, ficava ali pensativo e admirando aquela criação de Deus.
Chovia fino e ventava. Juca nem ligava. As pessoas dali tinham o costume de dizer que se alguém fosse para a praia com aquele tempo, só podia ser mineiro. Abismado, Juca não tirava os "zoio" daquele mundão de água que parecia não ter fim e como num efeito de mágica hipnotizava aquele simples caipira do interior de Minas Gerais.
E foi então que Juca com "zoios" arregalados no "trem grande" ou no "bicho", voltou seu pensamento ao interior de Minas e lembrou do pequeno rio que passava nos fundos da fazendinha dos seus pais que ficava entre as muitas montanhas de Minas. Talvez ai a explicação de sua timidez, do seu jeito caipira ou do seu ar de desconfiança, adjetivos muito comuns nos mineiros.
Juca brincava com tanta areia. Imaginava até que poderia levar um monte para sua terra. Um siri passa em disparada e assusta Juca. Fosse uma vaca um cavalo arisco não teria assustado tanto o caipira acostumado á labuta da fazendinha. E Juca começa a catar conchinhas. Cata uma, duas, três. As conchinhas ele imagina que são as pedrinhas do mar, assim como também no pequeno rio tem muitas pedrinhas que ele junta em um bornal.
Juca encontra um palito de picolé e começa a escrever seu nome na areia. A onda vem e desmancha. Juca escreve de novo e novamente a onda apaga. Juca então sobe um pouco mais e escreve. A onda não consegue mais apagar seu nome. Juca então lembra que uma vez escutou um poeta dizer que "voa e vê melhor quem voa mais alto" e assim Juca não mais parou de escrever. A inspiração vinha do alto e no alto.
O "bicho" mar encanta Juca e quando a moça bonita passa, seu rosto fica vermelho aumentando sua timidez de homem das montanhas. Juca olha de mansinho o "trem bão" e pensa nas moças da sua terra que tem o costume de fazer biscoito de goma nos fornos a lenha no quintal da fazendinha. Juca pensa que o "trem" daqui é bom, mas o "trem bão" de lenço na cabeça e vestido de flores amarelas é mais bonito. E Juca sente saudade.
E Juca resolve entrar na água para se banhar. Entra de mansinho sem fazer alarde. Antes, se benze. Dizem que todo mineiro faz este gesto antes de entrar na água do mar. Juca pensa: "Vai que tem uma pedra ou um tubarão" e "Eu num sou besta não sô". E falando em tubarão, Juca lembra de suas pescarias de pequenos lambaris que são preparados e fritos pelas moças de lenços nas cabeças e vestidos de flores amarelinhas.
Como tudo tem volta, amanhã Juca vai voltar para Minas Gerais. Uma cigana passa pela praia e pede a mão de Juca para ler. Juca não acredita muito, mas vai que ela fala uma coisa boa. .. A cigana disse que " Juca vai morrer com 98 anos". E a felicidade?, pergunta Juca. A cigana disse que " a felicidade de Juca está lá no interior de Minas Gerais onde tem uma fazendinha onde corre um pequeno rio no fundo do quintal e onde também tem uma moça de lenço na cabeça e vestido de flores amarelas fazendo biscoito de goma". Juca pensa: "Mas môço, num é que a danada da cigana acertou!". "Ô trem bão sô, grita alegremente Juca correndo para a estação. Afinal, mineiro nunca perde o trem...
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de infância e juventude Walter Fernandes (Waltinho "Melancia"), filho do saudoso ex. ferroviário Sebastião Fernandes, em Teófilo Otoni-MG- 31/08/2013, Barbacena-MG.